domingo, 6 de abril de 2014

Projeto Astrobiológico

O projeto astrobiológico ocupará os pesquisadores por muitas gerações. A ideia de fazer algo que será visto pelas gerações futuras, mas que provavelmente nunca veremos, representa a superação da temporalidade curta dos indivíduos e das sociedades do presente em favor da longa duração da espécie humana. Temos uma ética transgeracional que também está envolvida nas preocupações com o aquecimento global. Estas se inserem dentro de uma ética da sustentabilidade, adotada pelo Relatório Brundtland da World Commission on Environment and Development, para definir desenvolvimento sustentável: “Um desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de futuras gerações de atender às suas necessidades”. Entre os eixos da pesquisa astrobiológica está a ação humana na Terra e além. A imasexta meta do Nasa Astrobiology Roadmap (http://astrobiology.arc.nasa.gov/roadmap) é “compreender os princípios que moldam o futuro da vida, tanto na Terra como além”. Uma vez que se considera o futuro, é fundamental levar em conta a ação humana na Terra e mesmo além, à medida que o ser humano saia da Terra e vá a outros planetas, com a expansão da exploração espacial. Nessa saída do homem para outros mundos, é essencial que ele não repita os erros que cometeu no seu planeta de origem. Os seres humanos são a espécie com maior impacto na Terra neste momento. Entramos em uma nova era, o Antropoceno, um termo cunhado em 2000 por Paul Crutzen, prêmio Nobel em química de 1995, por seu trabalho sobre a destruição da camada de ozônio. A elevação das concentrações de metano e dióxido de carbono aprisionados no gelo polar indica que o Antropoceno começou na última parte do século 18. Essa data coincide com a invenção da máquina a vapor por James Wattem 1784. Além de induzir mudanças climáticas, com a elevação da temperatura provocada pela emissão de gases do efeito estufa a humanidade está perturbando vários ciclos biogeoquímicos do planeta. Estendo o Antropoceno em uma escala extraterrestre, o ser humano começa a poluir e contaminar o espaço a baixas órbitas (alturas menores que 1.000 km) em torno da Terra. O lixo espacial tornou-se um problema grave para as missões espaciais e legislações específicas têm sido elaboradas para lidar com ele. Outra discussão envolve a Geoengenharia, que tem sido pensada para resolver problemas do aquecimento global. Nesse caso, a ação humana seria deliberada, tentando consertar, no nível planetário, algum problema também de escala planetária. Contudo, técnicas de geoengenharia para combater o aquecimento global, incluindo desde espelhos em órbita da Terra até injeção de dióxido de carbono no subsolo e no oceano, poderiam constituir uma ameaça adicional à biodiversidade, cuja taxa de extinção atual, de origem antropogênica, é muito mais calamitosa que as mudanças climáticas. Indo além da geoengenharia, que é a ação deliberada na Terra, para fazer com que ela não deixe de ser Terra, temos a Terraformação. Esta é a intervenção nas condições físicas de um planeta para que ele se torne habitável. Trata-se de uma geoengenharia em uma escala muito maior que a pensada para a Terra, seguida por uma ecoengenharia, em que espécies são introduzidas a cada etapa de uma sucessão ecológica planejada. Nesse caso, o planeta deixará de ser ele mesmo para se tornar outro, no caso a Terra. Assim, realiza- se de um modo invertido à fábula de Jorge Luís Borges, em Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, na qual a Terra, começando com a adição de um país imaginário, Uqbar, gradualmente se transforma no planeta Tlön. “O mundo será Tlön.” O mundo. Esse é o campo do exercício da ética em sua maior extensão. Apesar de a humanidade ainda estar dando passos tímidos para fora da Terra, inevitavelmente se espalhará pelo Sistema Solar. Nessa expansão, uma ética cósmica deve abordar o cuidado da humanidade com o mundo, agora incluindo o domínio extraterrestre. O primeiro local a ser povoado será, sem dúvida, Marte. E, quem sabe, o primeiro mundo a experimentar a terraformação. Bilhões de anos atrás, Marte teve um clima mais quente e mais úmido, contendo água líquida. A terraformação restauraria as condições de habitabilidade de Marte. Com um ambiente mais quente, graças a gases de efeito estufa, Marte poderia manter água líquida, e depois formas de vida, começando por uma biomassa microbiana e, após, uma cobertura vegetal. Apesar de a humanidade ainda estar dando passos tímidos para fora da Terra, inevitavelmente se espalhará pelo Sistema Solar. Nessa expansão, uma ética cósmica deve abordar o cuidado da humanidade com o mundo, agora incluindo o domínio extraterrestre.
Jorge Luís Borges foi escritor, tradutor, crítico literário e ensaísta, o argentino Jorge Luis Borges (1899- 1986) deixou-nos obras-primas da literatura, como os livros de contos Ficções (1944) e O Aleph (1949). Em 1937, Borges foi nomeado diretor da Biblioteca Pública Nacional da República da Argentina. Por volta dos 50 anos, começou a perder a visão. O fato de Jorge Luís Borges não ter conquistado um Nobel de Literatura é tido pelos especialistas como uma das maiores injustiças da história da premiação.
Aldo Leopold foi Pensador de uma ética ecológica ou bioética, o filósofo e cientista Aldo Leopold (Burlington, EUA, 1887) formou-se em Engenharia Florestal pela Universidade de Yale e foi consultor da ONU para assuntos de preservação da vida selvagem. Leopold morreu em 1948, um ano antes do lançamento de seu principal livro, A sand county almanac.
Nessa altura, surgem as questões de ética ambiental. Um dos grandes problemas da terraformação é a possibilidade da existência de uma biosfera paralela em Marte, presente em criptoecossistemas. Na própria Terra, especula-se sobre uma biosfera paralela, que estaria em locais ainda inacessíveis ou simplesmente inexplorados do planeta, ou que ainda não tivesse sido reconhecida. Devemos nos lembrar de que todo um domínio da vida, o das archaea, só foi reconhecido na década de 1970, quando o microbiólogo Carl Woese separou esse domínio do das bactérias. Isso representou uma revolução do conhecimento biológico, pois se pode dizer que um terço da vida desse planeta havia passado despercebido até então. As divisões maiores da vida passaram a ser os três domínios: Archaea, Bacteria e Eukarya. (nos eucariotos – Eukarya –, o DNA está contido dentro de um núcleo, enquanto nos procariotos – archaeae e bactérias – o material genético é disperso no citoplasma da célula). Além disso, deve-se pesar o valor relativo de um planeta com ou sem biosfera. Mesmo sem uma biosfera, é cabível alterar tanto a fisionomia de um planeta? O grande ecologista norte-americano a Aldo Leopold lançou os fundamentos da sua “ética da terra”, estendendo os limites da ética da comunidade humana para o seu ambiente (“a terra”, nas palavras de Leopold). “Algo é correto se tende a preservar a integridade, estabilidade e beleza da comunidade biótica.” Espera-se que as pessoas tenham relações responsáveis não só entre si, mas também com a terra que habitam. A ética do cosmos seria o próximo passo na evolução da ética da terra, expandindo-a para incluir os ambientes extraterrestes. Como todo tema ético, também a ética ambiental é povoada por indecidíveis. Em uma perspectiva exclusivamente preservacionista, um ambiente deveria ser deixado o máximo possível intocado, e, nesse caso, um planeta morto, mas em seu “estado natural” seria preferível a um planeta com vida, quando essa tenha sido introduzida artificialmente. Em contraste, a posição de Leopold é a de um manejo sábio. Nesse caso, deve-se exercer o princípio da precaução. Procurar ao máximo por formas nativas de vida em Marte, antes de qualquer ação. Se encontrarmos apenas formas de vida extintas ou dormentes, como microorganismos congelados, o primeiro passo de uma ação ambiental seria a restauração e promoção das formas nativas, presentes ou passadas, para um renascimento ou expansão da biosfera, assim aumentando a biodiversidade no contexto cósmico. Seríamos tanto mais éticos quanto mais contribuíssemos para as assinaturas da vida no universo..

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